O Conselho Regional de Medicina do Piauí – CRM-PI, em parceria com o Grupo Matizes, realizou na tarde desta quarta-feira (30), o Fórum “Transexualidade no Foco da Saúde”, evento que teve palestras e discussões voltadas para a discussão sobre conscientização, transformação, qualificação e melhoria do atendimento de saúde com foco nas pessoas transexuais. O público alvo do evento foram médicos de todas as especialidades, especialmente ginecologistas, endocrinologistas, cirurgiões plásticos, pediatras psiquiatras, urologistas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e advogados. O Fórum faz parte da vasta programação da 13ª Semana do Orgulho de Ser, que está sendo realizada pelo Grupo Matizes, desde o dia 26 até o dia 03 de setembro, em Teresina.
A presidente do CRM-PI, Drª Mírian Palha Dias Parente, abriu o fórum que teve compo palestrante na abertura o psiquiatra Daniel Augusto Mori Gagliotti, que falou, entre outros assuntos das experiências e funcionamento do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense do IpqHCFMUS. O ambulatório é vinculado ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a Universidade de São Paulo. Segundo estudos, Gagliotti afirmou que desde o século passado, com os trabalhos pioneiros de Harry Benjamin e John Money, a medicina e posteriormente a psiquiatria passaram a se interessar e cuidar das pessoas transexuais. Ele falou para os presentes que transexualidade não é patologia, como preconiza o Ministério da Saúde, mas que essa terminologia começa a ser mudada, não apenas no Brasil. Ele também disse que é preciso ser consciente das barreiras de acesso aos tratamentos de saúde, para, então promover mudanças.
A segunda palestra abordada no fórum realizando no auditório do CRM-PI foi sobre Diretrizes gerais da hormonioterapia, pela Drª Karine Schkuter, ginecologista, colaboradora do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Secual do Núcleo de Psiquiatria e Psicologia Forense do IpqHCFMUS. Ela falou do histórico no Brasil do processo transexualizador, das formas de tratamento terapêuticos, cirurgias, entre outros.
No Brasil, o Conselho Federal de Medicina aprovou em 1997 a Resolução 1482/97 que autorizou o tratamento e a cirurgia de transgenitalização, ainda que de maneira experimental, para essa população. Na época acreditava-se que existiam no Brasil 1500 transexuais operados e 1200 aguardando autorização. Essa Resolução foi revista em 2002 e em 2010 pelo CFM que, a partir de então, estabeleceu que as cirurgias de transgenitalização para transexuais masculinos (homem/mulher) e femininos (mulher/homem) podem ser realizadas por qualquer equipe médica; já as relacionadas a neofaloplastia são ainda consideradas experimentais.
A última palestra abordou Aspectos legais referentes à saúde trans, por Myrian Lago, Promotora de Justiça, titular da Promotoria de Direitos Humanos.
Para a ginecologista e professora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí, Drª Andréa Cronemberger Rufino, que participa ativamente da Semana do Orgulho de Ser, e foi palestrante dentro da programação da Semana, disse que é um evento muito importante porque faz debates sobre a diversidade sexual e esse ano um dos temas, inclusive trazido para o CRM-PI, é a transexualidade no foco da saúde. “Como a gente pode ofertar uma saúde integral à essa população, que fica à margem de uma boa qualidade de saúde é o objetivo aqui no CRM-PI. Ainda não existe atendimento específico e especializado no Piauí para transexuais. Médicos e outros profissionais de saúde devem estar preparados, já que essa população, como quaisquer outra população, tem todo e qualquer problema de saúde. Mas existem especificidades do atendimento que cabe uma equipe com um treinamento mais específico e mais habilitado para dar essa assistência mais adequada. Existe uma diretriz do Ministério da Saúde que afirma que essa equipe especializada deve ser formada por psiquiatra, psicólogo, assistente social, ginecologista, urologista, então tem uma equipe multidisciplinar para pensar e ofertar essa saúde integral”, destacou a Drª Andrea Rufino.

 

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