RENÉ FAVALORO: UM MÉDICO REVOLUCIONÁRIO E HUMANISTA
*Gisleno Feitosa
René Gerónimo Favaloro nasceu em La Plata (Argentina) no dia 12 de julho de 1923. Teve infância pobre e humilde. Filho de um carpinteiro e uma costureira, ajudava o pai na carpintaria e, anos mais tarde, ouviu um Professor dizer que: “Para ser um bom cirurgião deveria ser um bom carpinteiro”. Foi um educador e cirurgião cardíaco, reconhecido mundialmente por desenvolver a derivação coronariana com veia safena como ponte (bypass coronário), em maio de 1967, na Cleveland Clinic, para tratar as obstruções coronarianas. Realizou um total de 13.000 desvio, até os 69 anos de idade, quando decidiu parar, dedicando-se ao ensino. Seu carisma, raciocínio lúcido e convincente abreviaram em muitos anos a consolidação desse novo e revolucionário procedimento cirúrgico. É desnecessário enfatizar os desdobramentos de progresso na cardiologia clínica e cirúrgica a partir desse fato. A primeira ponte de safena, no Brasil, foi realizado em 1968, no Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, pelo cirurgião cardiovascular Adib Jatene.
O amor à pátria e a noção de sua responsabilidade social fizeram com que Favaloro renunciasse a uma posição de destaque na Cleveland Clinic e aos acenos de uma situação financeira invejável. Retornou a Buenos Aires, em 1971, com o sonho de um visionário que desejava oferecer à Argentina um centro cardiológico de excelência à semelhança da Cleveland Clinic. Em 1992, inaugurou o Instituto de  Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular da Fundação Favaloro, sem fins lucrativos, que concentrou, desde então, a produção científica, assistencial e formação de recursos humanos na Argentina. Neste mesmo ano, foi capa do New York Times, com o título “Um herói mundial que mudou parte da medicina moderna e revolucionou a cardiologia”. Com o lema “tecnologia a serviço do humanismo médico”, o Instituto realizou 300.000 consultas, 200.000 estudos não invasivos, 17.000 cateterismos diagnósticos, 5.000 cateterismos terapêuticos, 18.000 cirurgias cardiovasculares e 300 transplantes cardíacos.
Publicou inúmeros trabalhos científicos, algumas monografias e livros relacionados à cultura e história.
A par de sua figura imponente, que lhe creditava posição científica invejável, tinha a característica muito rara de infundir confiança, esperança e otimismo nos que o cercavam. Multiplicava ideias sadias e de solidariedade, dizendo que preferia ser lembrado mais como docente do que como cirurgião.
No ano de 2000, a Argentina estava imersa em intensa crise econômica e política, e a Fundação Favaloro tinha uma dívida de 75 milhões de dólares. Por várias vezes Favaloro pediu ajuda ao governo argentino, mas nunca teve resposta. Face às dificuldades, Favaloro suicidou-se com arma de fogo, em 29 de julho de 2000. Sua partida foi tão emblemática como a sua vida. A trágica morte de René Favaloro, aos 77 anos de idade, causou profunda comoção na comunidade científica cardiológica dos cinco continentes.
Para o Dr. Enio Buffolo, Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Cardiovascular da Escola Paulista de Medicina “a figura humana extraordinária e ímpar de René G. Favaloro desapareceu. Ficou, todavia, seu legado, que talvez venha superar suas realizações em vida. Que sua alma descanse em paz, e que seu exemplo de dinamismo, solidariedade e preocupação com o social sirva para as futuras gerações”.
FRASES ATRIBUIDAS A RENÉ FAVALORO:
“A medicina é um ato humanista. Não só o corpo deve der cuidando, mas também a alma do paciente”.
“Eu não acredito em gênios, acredito no esforço e dedicação, dentro da ética”.
“Em cada ato médico, devem estar presentes o respeito pelo paciente e os conceitos éticos e morais; então a ciência e a consciência estarão sempre do mesmo lado, do lado da humanidade”.
“Proceder com honestidade para a dignidade do homem é o compromisso mais sublime de nossa curta passagem por este mundo”.
“O progresso da medicina e da bioengenharia devem ser considerados como verdadeiro sucesso para a humanidade quando todas as pessoas tiverem acesso aos seus benefícios e deixarem de ser um privilégio para as minorias”.
“É preciso entender que todos somos educadores. Cada ato de nossa vida diária tem implicações, por vezes significativas. Tentemos, então, ensinar pelo exemplo”.
“A ciência é uma das formas mais elevadas de atividade espiritual porque está ligada à atividade criativa do intelecto, a forma suprema de nossa condição humana”.
“É essencial organizar a cooperação internacional entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e lutar para uma sociedade melhor, com maior equidade e justiça social, o que permite respeitar e defender – juntamente com outras conquistas sociais – o direito inalienável do homem de aproveitar de boa saúde”.
“Eu deixarei a vida apenas com meus silêncios”.
DECÁLOGO DO BOM MÉDICO:
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*Gisleno Feitosa é membro Titular da Academia Brasileira de Médicos Escritores, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e da Academia de Medicina do Piauí. Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Piauí.